Pense em um momento em que você sentiu vergonha. Lembra da sensação de estar sendo vigiado, como se todos ao seu redor estivessem te julgando? Pois é, a verdade é que, provavelmente, você é a única pessoa que ainda lembra desse episódio. E, na maioria das vezes, acredite: você não foi tão observado quanto imagina. Isso acontece por um viés da nossa mente chamado efeito holofote
Vou te contar uma situação minha. Estava na rua e não reparei que a calçada estava molhada. Escorreguei e caí de joelhos no chão. Imediatamente, senti dor, mas, além disso, uma vergonha enorme tomou conta de mim. Passei a pensar que as pessoas estavam rindo de mim. Levantei rapidamente e fui embora o mais rápido que pude, sem coragem de olhar para ver se alguém realmente estava achando graça da minha queda.
Pode até ser que alguém que passava tenha se divertido com a situação, mas provavelmente a maioria das pessoas nem percebeu o que aconteceu. Muitas das que notaram provavelmente não riram, e, com certeza, até aquelas que riram de mim esqueceram o ocorrido algumas horas depois. Tenho certeza de que, hoje, apenas eu me lembro dessa queda.
O conceito do efeito holofote descreve nossa tendência a superestimar o quanto os outros percebem sobre nós. Em outras palavras, sentimos como se estivéssemos sempre sob um holofote, com nossos erros e falhas sendo iluminados e expostos para que todos vejam.
Esse conceito foi desenvolvido pelo psicólogo Thomas Gilovich e seus colegas. Eles realizaram um estudo em que pediram para estudantes universitários usarem uma camiseta com uma estampa constrangedora durante uma atividade. Depois, os estudantes deveriam dizer quantos colegas notaram que estavam usando a camisa. Os resultados mostraram que apenas 25% dos colegas repararam na camiseta constrangedora. Enquanto isso, os participantes que usaram a camisa sempre estimaram que o dobro de pessoas havia reparado.
Os pesquisadores fizeram um segundo experimento. Nesse, os participantes vestiram uma camisa que consideravam bonita, e o resultado foi o mesmo. Isso acontece porque é muito difícil adivinhar o que alguém está pensando. Na maior parte do tempo, a única perspectiva que podemos acessar completamente é a nossa. E essa tendência de nos centrarmos em nós mesmos pode nos fazer sentir como se estivéssemos sob vigilância o tempo todo.
Pegue minha queda constrangedora como exemplo. Você consegue lembrar de pelo menos três pessoas que viu cair na rua? Pois é, as outras pessoas também não lembram das suas quedas.
Entender que não somos nem de longe o centro das atenções quanto pensamos pode ser, por um lado, libertador da vergonha e, por outro, um lembrete para não inflarmos tanto nosso ego. Lembre-se: o holofote social brilha com menos intensidade do que você imagina.
Referências:
2. GILOVICH, Thomas; MEDVEC, Vera H.; SAVITSKY, Kenneth. The spotlight effect: The tendency to overestimate the extent to which our actions and appearance are noted by others. Journal of Personality and Social Psychology, v. 78, n. 2. DOI: 10.1037//0022-3514.78.2.211
3. O animal Social – Elliot Aronson